Às vezes ajuda ir ao básico das definições para clarificar o que está em questão. Quando vamos “pedir um crédito habitação” estamos a ir comprar dinheiro a um determinado preço, preço esse que está refletido na taxa de juro. Será que deve pedir crédito habitação se tiver o dinheiro disponível? Como podemos responder a esta questão?
Alavancagem financeira
Na grande maioria dos casos uma pessoa recorrer ao crédito porque não tem o dinheiro hoje para obter algo que precisa no imediato, por isso vai ter com quem tem esse dinheiro (o banco) e compromete-se a pagar nas condições em que o mesmo é vendido. Contudo, mesmo tendo o dinheiro (por exemplo: numa poupança) pode fazer sentido recorrer a crédito, numa lógica de alavancagem financeira.
Quando dizemos que o dinheiro está barato é porque estamos a viver um cenário de taxas de juro baixas. Se esse é o cenário, então o racional financeiro de recorrer a crédito pode fazer ainda mais sentido.
Custo de oportunidade
Um conceito financeiro importante para esta decisão é o chamado “custo de oportunidade”. Sempre que fazemos uma escolha há algo que fica por fazer, daí também se dizer que “não há almoços grátis”. Mesmo que alguém lhe ofereça um almoço há sempre o custo daquilo que ficou por fazer por ter ido a esse almoço. A decisão financeira racional é aquela em que o custo da minha escolha é inferior ao custo do que ficou.
Qual a conta a fazer?
Ao pensar numa situação em que tenho um investimento a render 3%/ano com valor suficiente para comprar uma casa a pronto e tenho a possibilidade de me financiar nesse mesmo valor a 1,5%/ano, qual a opção financeiramente mais interessante?
Se tenho a opção de fazer um encaixe financeiro com um custo anual de 1,5% não faz sentido deixar de ganhar os 3%/ano, que me permitem gerar mais valor. O custo com a taxa de juro e outros custos associados como o seguro de vida crédito habitação é aquilo que realmente o deve preocupar quando quer analisar, por exemplo, o retorno de um investimento imobiliário para arrendamento. Quando está a pagar uma prestação ao banco, está sempre a pagar uma parte referente ao capital e outra relativa ao juro. Ora, a parcela da prestação que é para abater ao capital não é um custo financeiro. Apenas tem como custo o juro cobrado, esse é que é o valor que está a pagar a mais por recorrer a crédito em vez de pagar a pronto.
Nem tudo é matemática
Há dois fatores que devo ter nesta análise que ultrapassa a lógica matemática: a incerteza da rentabilidade do investimento e o factor psicológico de ter uma prestação mensal. Ambos os argumentos são válidos e devem ser considerados, mas para quem está a olhar para as suas finanças na perspetiva do investidor tem de reconhecer que faz sentido alavancar em vez de se descapitalizar.