O rumo natural da vida leva à inevitável tomada de decisões. Quando junta a sua vida à vida de alguém, é preciso equacionar uma série de questões. Elencamos aqui as vantagens e desvantagens de uma conta conjunta. Planeie a sua vida financeira comum, antes que a realidade o ultrapasse.
Ponha o foco na organização
A parte financeira da sua vida é uma área em que a razão deve estar mais alerta, já todos sabemos. Mas em matéria de casais e economia comum não há como escapar à ideia de que o romantismo – e a nossa tendência natural a adiar burocracias e chatices – foge, naturalmente, da tomada de decisão.
A ideia é evitar preocupações e desavenças futuras entre pessoas que partilham a vida e o dinheiro. O dinheiro é, queiramos ou não, um dos temas mais sensíveis entre casais e famílias em geral.
Não se esqueça de que vivemos flutuações ao longo do tempo e de que a mudança é inerente à vida. Filhos, casa, divórcio, doença ou morte alteram radicalmente as situações.
Cada caso é um caso, e por isso deve observar a sua situação atentamente e não ser dogmático. Se tem filhos ou pretende ter, se pretende comprar ou arrendar casa ou carro em conjunto, entre outras variáveis base da vida de um casal – deve pensar bem, nomeadamente naquelas que levam a maior parte do rendimento mensal.
Equacione estas variáveis:
- Têm uma filosofia/ perfil de gestão de dinheiro semelhante?
- Falam de dinheiro com naturalidade e concordam quase sempre?
- Têm objectivos de aquisição de bens comuns?
- Têm objectivos de poupança comuns?
- Têm ou planeiam ter filhos e vêm a sua educação de modo semelhante?
Vantagens de uma conta conjunta
- Melhor gestão: ajuda à organização e na melhor gestão da vida financeira, inclusive poupanças, etc.;
- Confiança: a confiança entre o casal, transparência e responsabilidade partilhada são apanágio desta solução;
- Poupar em comissões de conta: é verdade que uma conta onde são depositados os rendimentos dos dois terá um valor mais alto e poderá estar isenta de comissões. No entanto, sugerimos que pesquise bancos que não lhe cobram comissões pela sua conta à ordem.
- Poupar em burocracia: um só extracto bancário e tudo concentrado facilita a vida e a organização. Não tem de haver transferências, decisões ou registos sobre quem paga o quê;
- Prático em viagens: se um dos membros do casal viajar bastante, o outro pode rapidamente colocar dinheiro na conta em caso de necessidade;
- Herança automática: em caso de morte do cônjuge, o dinheiro da conta conjunta é automaticamente do outro, sem complicações legais e burocráticas.
Modalidades de conta conjunta
- Conta conjunta: só pode ser movimentada com o aval de todos os titulares – mais seguras, menos práticas;
- Conta solidária: podem ser movimentadas por todos, sem autorização do outro – solução mais prática entre casais/economia comum;
- Conta mista: combinam as opções anteriores, sendo os poderes de movimentação definidos na abertura.
No meio é que está a virtude: a mistura de tipos de conta
Optar por ter 3 contas, duas separadas e uma conjunta, acaba por ser uma solução sensata, que pode ajudar a não criar atritos desnecessários. Na conta conjunta devem ser equilibrados e dar sempre retorno ao outro dos movimentos feitos, ainda que assumam que um gere melhor o dinheiro que o outro. Respeito e corresponsabilização são essenciais.
Muitos casais e pessoas em economia comum optam por uma espécie de terceira via, que é muitas vezes uma forma mais equilibrada de gerir as finanças e respeitar a liberdade individual, uma vez que nem todos temos personalidades semelhantes, os mesmos hábitos de gestão, nem o mesmo tipo de educação financeira.
Seja qual for a sua opção, equacione, com calma, todas as variáveis. Aquilo que parece evidente, nem sempre é: total transparência, comunicação e organização entre os dois titulares da conta. Caso queira e possa seguir a opção conjunta, lembre-se de que é como se passasse a ter uma pequena empresa familiar: deve estar preparado para a ideia de olhar para o rendimento como “o nosso dinheiro”.
Para juntar, há estratégias:
- Valor base: deve definir o valor mensal que irá depositar, ao calcular os salários dos dois, chegando a uma percentagem justa dos rendimentos de cada um;
- Valor para extras: deve decidir quanto podem levantar após o pagamento de todas as despesas fixas;
- Informação: comunicação e organização são fundamentais. É necessário informar o outro caso haja algum movimento excepcional na conta comum.
Desvantagens das contas conjuntas
- Dívidas antigas: caso haja muitas dívidas e questões financeiras por resolver que um dos membros traga para a vida comum, isso deve ser equacionado, sob pena de pesar muito na conta conjunta.
- Abdicar de privacidade: é inevitável que a outra pessoa saiba todas as despesas que são feitas e deve perceber se isso se adequa ao seu perfil;
- Abdicar de independência: se tem a independência/controlo total sobre tudo há anos e tem dificuldade em abdicar disso, deve pensar duas vezes. Com uma conta conjunta, terá de se preocupar com as decisões financeiras do outro e pode não querer essa responsabilidade;
- Sentimento de injustiça: por conta de rendimentos diferentes, por vezes há ressentimentos entre os casais. Deve pensar se gere bem esta situação;
- Urgência: se tiver necessidade de um pagamento imediato não pode aceder à conta do outro, não podendo agilizar a situação. As transferências, nomeadamente interbancárias, demoram cerca entre 1 a 3 dias úteis;
- Divórcio litigioso: caso haja discordâncias e faltas de comunicação graves, um dos membros pode sempre esvaziar a conta. Embora haja meios legais para recorrer, o risco existe;
- Lista negra bancária: se um dos membros entrar em incumprimento de qualquer tipo e a conta ficar a descoberto, ambos os perfis bancários ficarão manchados, o que futuramente, e para novos créditos, pode prejudicá-los bastante;
A infidelidade financeira e a contabilização ao tostão
O dinheiro pode significar discórdia, como sabemos. A infidelidade financeira acontece. Há pessoas que pedem ajuda para renegociar os créditos que têm em contas que o cônjuge desconhece, o que não é bom sinal… Mas é preciso notar que quando se escolhe ter contas separadas, não significa que o património de ambos esteja separado.
Há casais que contabilizam tudo, porque um ganha muito mais que o outro… O que também não tem muito sentido – as pessoas não valem pelo que ganham. Se há uma vida em comum, devem esforçar-se por cumprir objectivos comuns e individuais, sem esquecer que o dinheiro não é um propósito em si – não deve tornar-nos escravos, mas servir as pessoas e a sua tranquilidade financeira.
O orçamento familiar e mais tempo para si
Central na gestão do dinheiro em casal é a construção, manutenção e cumprimento de um orçamento familiar. Por que não ter reuniões periódicas em que se fala sobre dinheiro? É uma forma de libertar o resto do tempo para se falar sobre coisas mais importantes. Nos dias que correm, perdemos demasiado tempo a discutir sobre dinheiro e sobre a falta dele.